Erro


Erro é teu.
Amei-te um dia
Com esse amor passageiro
Que nasce na fantasia
E não chega ao coração
Nem foi amor, foi apenas
Uma ligeira impressão
Um querer indiferente,
Em tua presença vivo
Nulo se estavas ausente.
E se ora me vês esquivo
Se, como outrora, não vês
Meus incensos de poeta
Ir eu queimar a teus pés
É que, — como obra de um dia
Passou-me essa fantasia.
Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras.
Tuas frívolas quimeras
Teu vão amor de ti mesma
 Essa pêndula gelada
Que chamavas coração
Eram bem fracos liames
Para que a alma enamorada
Me conseguissem prender
Foram baldados tentames
Saiu contra ti o azar
E embora pouca, perdeste
A glória de me arrastar
Ao teu carro...Vãs quimeras!
Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras...

(Machado de Assis, in 'Crisálidas')

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